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DONIZETE GALVÃO
( Brasil – Minas Gerais)
Nasceu em Borda da Mata, Minas Gerais, em 1955.
Cursou Administração de Empresas em Santa Rita do Sapucaí e Jornalismo na Fundação Cásper Líbero.
Na área da literatura infantil, publicou O sapo apaixonado: uma história inspirada em uma narrativa indígena (2007).
Obra poética: Azul navalha (1988, Prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte e finalista do Prêmio Jabuti); As faces do rio (1991); Do silêncio da pedra (1996),
A carne e o tempo (1997, finalista do prêmio Jabuti;
Ruminações (1999); Pelo corpo (2002, e parceria com Ronald Polito) e Mundo mudo (2003, indicado ao Prêmio Portugal Telecom).
ROTEIRO DA POESIA BRASILEIRA anos 80. / direção Edla van Steen; seleção e prefácio Ricardo Vieira Lima. São Paulo: Global, 2010. (Coleção Roteiro da Poesia
Brasileira) ISBN 978-85-260-1155-7 No. 10 317
Exemplar da biblioteca de Antonio Miranda
DIANTE DE UMA FOTOGRAFIA DE AUDEN
Para Celso Alves Cruz
e agora essa fotografia
a aridez dos sulcos
a devastação da terra
os olhos baços
foi de tomar gim?
foi desengano de amor?
foi falta de fé?
ele pressentiu no espelho
cada um desses estragos?
ele sentiu o tempo
abrindo essas crateras?
mas não importa
a cara de velho do poeta
se contra todo o bom-senso
ele pode negar a idade
e inaugurar
o novo
o belo
o inútil
Azul navalha (1988)
SIMULACROS
Para Christina Menezes de Azevedo
Senhoras e senhores, o circo já ergueu a lona.
Vêm o prefeito, a beldade, as mulheres da zona.
Todos se divertem com o espetáculo ilusório.
Está aberto o reino do precário e do provisório.
Rufam todos os tambores, abrem-se as cortinas.
Nossa trupe mambembe exibe suas dores e sinas.
A orquestra toca Bolero, o ritmo vai crescendo.
O fraque do maestro tem no braço um remendo.
Eis Crystal Kimberley, a rainha do satrip-tease.
Saiu do sertão do Sergipe, de nome Wandernise.
A mulher-rã, contorcionista vinda do circo russo,
Depila pernas e sovacos, mas se esquece do buço.
Com vocês, uma feroz leoa da savana africana.
Barriga vazia, não como gato há uma semana.
A pássara Tatiana, trapezista bela e impávida,
Esconde do amante domador que está grávida.
Anaïs, índia guarani, que é exímia equilibrista,
Carece de vitaminas e de ir urgente ao dentista.
Alegria da criançada, o nosso palhaço Arrebita,
No trailer sujo, teve macarrão e ovo na marmita.
De noiva, vai-se casar uma anã, loira oxigenada.
Que graça! Puxam-lhe o vestido e ela corre pelada.
Aplausos para o salto mortal de sonho e pobreza.
Onde uns veem o belo, outros enxergam a tristeza.
A carne e o tempo (1997)
ESCOICEADOS
Meu pai e eu
nunca subimos
num alazão
que galopasse
ao vento.
Tínhamos
um burro
cinza-malhado:
o Ligeiro.
Foi apanhado
de um conhecido
por ninharia.
Chegou com fama
de sistemático,
cheio de refugos.
De trote tão curto que dava dor
nas costelas.
De certa vez,
caímos do burro. Meu pai e eu.
Eu e meu pai. Embolados.
Joelhos esfolados
no pedregulho.
Levamos
bons coices.
Meu pai e eu.
Os dois
nunca subimos
na vida.
Ruminações (1999)
*
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Página publicada em abril de 2025.
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